25 de dezembro de 2008

ausência

quase sinto
tua mão no meu rosto
respirar no teu pescoço
quase dá pra ver
teu olhar se esconder
e finjo que esqueço
quase minto
pra que a mentira esquente
o fato de não estar presente

esperando

um segundo me distrai
o pensamento cai
sobre imagens que filtrei
ou criei;
às vezes nem sei
o que existe mesmo,
não teria inventado
num momento
chateado?
faço um movimento:
agora me lembro
estava ali
estou aqui
parado e calado
esperando que passe

garoando

abram as janelas
para o céu sem sol
sobre elas - eu sobre o lençol
assisti acordado
a chuva tinha começado
as gotas caídas em pétalas
as flores todas em pé
a grama cheirando molhado
garoa fina no telhado
e eu ali deitado
pensando
que está se passando?
nada demais
continuemos garoando

17 de dezembro de 2008

o verde de gramado recém cortado
com roxo adocicado encontrou
o sabor pro seu odor
e se completou;

tonturas a parte
a parte dos sorrisos
o tanto que falamos
de tanto que passamos
as gotas choveram finas
passantes riram de canto
enquanto mudávamos de canto
alguns segredos cantei
depois de lágrimas que contei;

cheiro de grama cortada
cheia de grama, coitada
goles longos seguidos
de contatos prolongados
pela pele macia
do jeito que fazia
te sentir em mim
depois achei que me encontrei
e silenciei;

minha camisa ficou listrada
e sua face, rosada;
oxe, grande massa de nada
enxarcada de coisa nenhuma
entupida de gestos recatados
com milhões de significados

rituais soam como tribunais
com meus dedos, tudo manchado
sobre a lenha, machado
e os livros, que mancada

me encho de reticências
engulo pedaços de mim
a seco - por fim
novas experiencias...

30 de novembro de 2008

retoque

leve como vento
me leva como ar
de olhar atento
tudo breve

enfim que troque
esse rock
som afim
assim que toque

que diferença traz
todas nossas palavras
se poesia que o silencio faz
que me deixa em paz

28 de novembro de 2008

me chamam de confuso
me chamam de babaca
querem me dar um tiro
querem que eu acorde cedo
que eu quebre um galho em troca de cerveja
que eu pense tudo denovo antes da certeza
que escute o que tem pra falar
que eu fale o que tem pra escutar
que eu gere alguma fofoca nova
que eu me dê bem na prova
que eu seja criativo
não seja impulsivo
que me desbobre e termine
aquelas idéias do zine
que eu não me molhe
que eu arrume a casa
que eu organize o meu tempo
querem que eu decida minha vida
que é passagem só de ida
e fico só querendo saber
o que eu quero querer
maldita página em branco

19 de novembro de 2008

reticências entre poemas

E se chegasse do nada um sujeito
e te convidasse pra entrar em sua vida?
Se o que tenho agora potencializasse seu efeito
abordaria alguma garota charmosa e desprovida
de qualquer defesa
e que com sutileza
me chamaria de louco
- pra este estado me falta pouco
Parei um tempo pra pensar
e pensei demais
acabei olhando pra trás
e criei mais um drama
vi você fora da minha cabana
descobri que não sou o rei dos trovões
e nem de porcaria nenhuma
Tenho diante de mim três opções
exitando escolho uma
Caí na encruzilhada sem querer
sobre você não sei se tenho poder
pior, não sei se tenho algum direito
a outra, não sei o que deveria ter feito
Sobrei aqui sem jeito
sujeito à tempestade
desde a hora que o sol quase nasceu
e meu peito estremeceu
perdi de vez qualquer majestade
prum amigo lacrimejei verdade
Eu que desejei aos céus não mais me apaixonar
nadei em seco, sóbrio e agora cogito
por uma paixão molhada pra me embriagar
e redundante, meus erros repito
sem saber pra que lado olhar
que boca procurar
e porque diabos meu coração palpita
com medo que tudo se repita

...

Me cansei de coisas sem fundamento
E estremeço se ouço meu lamento
Engraçado como alguns versos me levam ao papel
enquanto com a razão sou infiel
Desenlucidei, mas ainda não me apaixonei
Nunca tinha entendido o porquê
Mas pode ser que a razão seja você

...

E agora não paro de escrever
assim consigo pensar mais devagar
a velocidade da caneta me organiza a cabeça e me acalma o coração
Quando sem querer acontece o que não quero ver
me bate no peito um ar de azar
E agora, o que vai ser, rapaz? outra dose de nada
ou mais um poema pra consolar?

...

Risco e rabisco, mas nunca quero completar
quando chego perto arrumo algo pra bloquear
Não arrisco e nem resisto, não quero me queimar
Cuidado meu amigo, que você morre sem amar

...

Vai dar uma volta por alguma rua
aproveita pra admirar a lua
e na volta me traz uma resposta
que não aguento a agonia dessa aposta
larga essa mania de rima que não leva a nada
e mergulha em algo mais concreto
que possa se agarrar
ou quem sabe algo mais fonético
pra que possa flutuar

...

Vai logo e acaba com essas folhas
expurga todo esse mal
escarra todos os versos que tragou na rua
com a conversa da garota que ficou nua
ou a promessa de ir pro mato
Mata essa vontade, larga a vaidade
me encontra uma verdade
quem sabe se encanta em um canto
lá pra fora da cidade

...

Estou ficando surdo com o coração inquieto
com vozes me berrando em dialeto
com essa sensação de continuar incompleto
que angústia, que prisão
meu passo não firme, não tenho mais direção
me perdi na estupidês
no estado de embriaguês
quem vai entender do que falo
sem perder algum detalhe
se me entende digo que mente
que nem sei eu de quanto isso vale
no meio de tanto pensamento sou eu
quem eu quero que me escute
e dane-se a métrica e dane-se a rima
dane-se a obra-prima
no meio da fossa quero só resposta

...

Pega um pedaço e joga pro espaço
a caneta não faz barulho e nem fala no escuro
Pega um fragmento e joga contra o lamento
é ferro no cimento
Solta faísca e explode em estilhaço
Fere minha pele e me lembra que não sou de aço
sinto falta daquele abraço
de um calor humano longe desse sentimento mundano
longe das palavras rebuscadas e
piadas mal interpretadas
e agora bixo, te conto como isso me consome
e só falando de forma mais clara que você percebe
De repente tudo que havia se some
e a cabeça deixa de estar leve
com o peito pesado
tecendo novos planos
sinto a força do passado
que nos abate enquanto vegetamos

...

11 de novembro de 2008

nunca se perdeu tanto tempo
discutindo sobre o tempo
nunca pensamos tanto em espaço
perdendo tanto espaço
mas há tempo somos prolixos
sem nada pra dizer

continuamos sedentos
sem saber o que querer
perdidos sem querer
estupefados sem saber
e gastando o tempo
só pra passar o tempo

acusa pra não carregar culpa
aponta pra sair da ponta
e lavamos as mão pra tanta sujeira
enquanto rimos de toda essa grande besteira

6 de novembro de 2008

voz

mesmo que eu dominasse a lingua dos monstros
ou fosse capaz de produzir esses estrondos
não acataria essa sua mentalidade hostil
ou partilharia do espírito vil

mesmo que não faça sentido me dar ouvido
ou que essa experiência não tenha coerência
tudo que se fale de algo vale
mesmo que seja capricho ou vá pro lixo

me acusa de subversão porque meu discurso não tem inteção
e eu me pergunto o que esotu fazendo
e se não estou me contradizendo

é uma pena que a verdade não seja assim tão plena
pensando bem, vou mais além
por nosso conflito é que existo

27 de outubro de 2008






Acredito estar bem explicado aqui, agora começarei a fazer contato com meus contatos.
E descupem os erros de grafia, qualquer hora os corrijo.
como me encontrar agora?
sentado no fim do furacão
se tudo passou violento
em forma de desconstrução
e mais rápido que auróra
será que paro para respirar
ou construo novas velas para navegar
ainda sinto as vozes ecoando
os acordes ressoando
e as vezes se acumulando
tudo espalhado pelo chão
até imagens espelhadas
que logo se vão
tenho inteção e tenho obrigação
só não sei onde encontro opção
a ventania vai e volta
e com sorte me traz devolta
um saudoso recomeço
que sempre nasce com medo

24 de outubro de 2008

meu espaço me envolve
enquanto o tempo se dissolve
me fomentam a sensação
sinto a percepção
que eu mesmo criei
em função do movimento
que conduz meu experimento
amanhã eu (re)tento
o que já iniciei
me cansei
mas repensei
acabei percebendo
outra vez
acabou acontecendo
recomeçarei, talvez

14 de outubro de 2008

como podem ser
recortes formalizados em uma composição elegante
esbanjando profusão em guerra semântica de seu pequeno (uni)verso

sentimentos que deixam pegadas de elefante
com olhos que não param de ler
grande falta de educação, por vezes expresso

mas é que seu rosto melancólico assim sem me perceber
me faz lembrar da relação alcóolica que tivemos ao amanhecer

aspiro as cinzas daquelas efêmeras brasas
que com esse seu ar despreocupado se opõe
sinto-as agudas em meus pulmões

7 de setembro de 2008

preste atenção

parte I

nem tudo que acontece aparecere
e não só o que aparece acontece
simples, parece
mas não é assim que acontece

parte II

nos porões, debaixo dos lençóis, onde o sol não bate
as idéias se fazem e os conceitos concedem direitos

parte III

geração espontânea: o leite nasce de embalagens tetrapack (mas depois que você abre só sai, não nasce mais)
a luz vem das lâmpadas
pensamento e intuição são o mesmo

obs.: o sentido é ascendente, mas pode não estar em todas as partes

6 de agosto de 2008

Como assim

panquecas da uma e meia
minhas únicas companheiras
numa noitinha sorrateira
congeladas e devoradas
póstumas: lanche memorável
com mostarda, nada saudável

5 de agosto de 2008

as letras em português me trazem palavras à cabeça que não rimam com o poema

sempre presente
acho que você entende
nada é mais muito surpreendente
nesse estado assim
que é começo e fim, cruzando confim
uma sensação nova!
- bem que eu estava afim
daquele tipo de coisa que renova
pra me tirar da alcova
tipo uma bolha de sabão
num instante do verão
com aquela boa música de tocar no violão
ha ha, mas eu me alimento de mim mesmo
numa espécie de antropofagismo a esmo
que se faz em casa no meio do marasmo
aqui, denovo me perdi
e foi assim que consegui
sair dali

3 de agosto de 2008

quando a música acaba

me acusam de apaixonado,
me defendo com um trago
respiro aliviado,
não preciso responder alterado
suspiro em silencio
no céu escuro onde as estrelas falam mais alto
vejam as trombetas
que nada tem de especiais
em meus ouvidos chegam em acordes celestiais
os enxergo em arranjos de cores
enquanto nos cantos nascem novas flores
com cantos mudos hedonizam ao luar
não quero nem pensar
senão logo vou me cansar
vamos então apenas por mais uma velha canção
e um novo poema espontâneo
transitar

26 de julho de 2008

Segundo sem luar

Algo metafísico me conduz
É extrasensorial o que me incita
Comigo é que implica
E com gestos leves me seduz
Há um deserto a se cruzar
E há tempestade, areia em meu olhar


Vendo o que vejo, quero mais
E mais: te quero - mas não te vejo
De longe, me cria desejo
Vendo minha alma pelo ensejo

Só existe em pensamento
Vinte mil vezes
O pensamento existe só

O momento que nunca chega
CHEGA!
Coincidencias infindadas
Ou mentiras bem contadas
Que é que nos acontece, querida?
Um sentimento que me entorpece
Enquanto se passa na sua cabeça
Algo que se desconhece
Soprarei tudo pra longe e tornarei sã minha visão
Rumarei às pirâmides, esbarrando em você ou não
Mesmo que nossos beijos novos
Que no segundo solstício fugiram do luar
E em nenhum segundo tiveram lugar

Tenham me gelado todos os ossos
E quebrado sete juntas

23 de junho de 2008

regurgitar

essa translação nos leva como pó em vento
é mutação, e não sei porque, eu entendo
entendo tudo isso e te entendo
por mais que diga que não, continua no campo da visão
elas batem, se chocam e chacoalham
nossas lembranças nos entalham
e nessos pensamentos se espalham
no grande poder de uma grão de sei-lá-quê
numa imensidão de não-sei-que-lá
fazer o quê, controlar?
não sei, não sei se saberei
o como daquilo que saboriei
e quantidade que me separei
tão efêmero, não querendo ou deixando
tudo que vai desabrochando
ou acidamente debochando
contínua rotação, dentro da equação
premeditada
meditada?
mesmo com agressividade, sem passividade
encaremos essas múltiplas curiosidades
realidade estranha que vai pra dentro das entranhas
se regurgitar ou vomitar
torne a levantar e volte a caminhar

18 de junho de 2008

O que você acha?

vê se essas opiniões são puras
ou frutos da macroestrutura
passam por filtros de cultura
até dissolverem em conjuntura

eu te manipulo, você me inlfuencia
dissimulamos nossa hipocrisia
não suportamos vossa teimosia
faiscamos em harmonia

se você enxerga em sinceridade
no fundo há alguma contrariedade
disfarçada pela sua seriedade

quando a idéia desentoa
pra não discutir à toa
aceita numa boa

12 de junho de 2008

Pela rua

Depois, há energia em encubação
na chuva sem capa molho os sapatos
mas não está tão frio assim
e tanta vontade pra expansão
cada um como vetor
sempre precede uma trasmutação
e se atira em sua nova revolução
outro dia me pediram um trocado
e eu achei um lápis prateado
magnânimos senhores das técnicas
enxarcam os pés ainda mais
e amanhã estão atrasados novamente
e com a corda no pescoço
continuam querendo sua transcendencia
não me indigno com indecencia
nem quando vejo o sujeito defecar
e os passantes sem querer notar - sem querer
e os valores que dão aos valores
sempre mudar, sem querer
sempre acordados, sem tempo para parar
parar pra crer
tempo pra parar
assistimos nossos dias acordar
e nos assistem passear
trocamos sorrisos, nos falamos pelas costas
criticamos o juízos, discutimos nossas cotas
e assim os pés não vão secar
mas não dá pra deixar a vontade matar
nem deixar de matar a vontade
assim sentamos no bar
voltamos pro lar
ficamos de pernas pro ar
com uma parte da cabeça sem oxigenar
e metade dos versos sem rimar
sem contar os 32 poemas sem anotar
e os 13 amores sem amar
mas ainda penso
que vou secar minhas meias
depois de topar com as putas feias
depois de falar com as cabeças cheias
e escarrar de boca cheia
e sempre querendo ir pra algum lugar
antes da coisa acabar
e estar em todo lugar
que por sorte encontrar
guarda chuvas não segura os calçados
capa de chuva também não
e tá cheio de fezes de ratos nessas poças
e continuam charmosas essas moças
tudo ao mesmo tempo
no mesmo lugar
no lugar onde estou
e sempre estou em algum lugar
mesmo que não passe bem devagar
tudo acaba em aleatório
na boca do riso alegórico
até depois de pendurar os cadarços enxarcados
e tirar a roupa cansada
fica em algum lugar marcada
aquelas vontades de sempre
que sempre estão diferentes
nossos olhares divergentes
nossos lugares diferentes
se nos encontramos
desencontramos mais ainda
ainda que continuemos procurando
enquanto as gotas ficam pingando

6 de maio de 2008

Imagem

Suas olheiras são profundas
mas fica até essas horas acordado
só pra divagar num lapso ocioso
Cultiva pensamentos oriundos
de lugares mal colocados
só pra profanar um passo audacioso
Mantém desejos confusos
sem detalhes caprichados
só pra manter o acaso malicioso
Pra que essas horas vagabundas?
cheias de sentimentos frustrados
pra por seu reflexo vaidoso?
Amiúdes seus, difusos
numa estrutura desarrumada
entre silêncio e grito, estrondoso

4 de maio de 2008

Veja só

Mas veja só
Que não está tão frio nesse copo de vinho quente
Como é bom rever toda essa gente
E se chacoalhar livremente
O vento vai jogando longe toda poeira
Mesmo aquilo que a gente ache que foi besteira
Ou toda aquela sensação verdadeira
Nossas máquinas contam tempo
Nossas folhas guardam lamento
E vivemos de experimento
Vale a pena tudo que for
Procuramos tanto amor
Esbarramos em tanta dor
Vejo que é bem difícil saber
E sempre há mais o que beber
- e tremer, e escrever, e viver
Vamos caminhando
Aos poucos nos achando
Muita coisa encontrando
Olhar ao redor
Aquela letra que sabe de cor
E aquele cabelo que ficou menor
Mas tem coisa maior
Que vai-e-vem e roda em Mutação
Cheia de distorção
Cai em contradição
E vejo em Expasão
Como podemos criar
- tem tanta coisa no ar -
Se souber-mos pra onde olhar

Fragmentação

Chuva de espinhos sobre o coração
Try now we can only lose
Ah, simples e suave coisa, Suave coisa nenhuma
Escute esta canção Ou qualquer bobagem
Fly on, little wing
Com grande amor e alegria
Que fim levaram todas as flores?
No, no, no, it ain't me, babe
It ain't me you're lookin' for, babe
Heartbreaker, your time has come, can't take your evil way
It's not hard to realize Just look into her false colored eyes
I'm about to lose my worried mind
And your mind is full of red, Don't you want somebody to love?
Learn to forget
Estou mudando para rock'n'roll city, baby
Eu quero dizer Agora o oposto Do que eu disse antes
I have to admit it's getting better
How do you feel? How do you feel? How?
Well, I'm gonna try yeah, just a little bit harder
Tudo aquilo que passou, passou
Telling myself it's not as hard, hard, hard as it seems
Yeah Yeah, tudo bem
Mas eu te espero na porta das manhãs porque o grito dos teus olhos é mais e mais e mais
Mas eta vida danada! Eu não entendo mais nada!
The future's uncertain, and the end is always near
Só quero uma vida em que a gente possa amar


Posso perder minha mulher, minha mãe, desde que eu tenha o meu Rock and Roll
Eu tinha um guarda-chuva
que confusão, que confusão
Eu comprei uma capa de chuva
por precaução, por precaução

1 de maio de 2008

O dia mais frio da estação

O vento, ontem, congelou-se e retalhava-me a face
Senti-me vil, vi sinceridade com cor de crueldade
As vozes de meu peito gritaram até que as escutasse
E no auge da agonia te mostrei minha verdade
- que buscando foi que em você esbarrei
Em tudo há risco, mas mesmo assim, arrisco
Infeliz e Novamente não acertei
Em nome do coração - que não compreendo,
não controlo, apenas ouvi e acatei -
Pesso desculpas pelas marcas, se as deixei
No espelho, a uma flor morta se reduz
Mas há efemeridade
E no seu quarto escuro não vê que há luz
Logo estará na claridade
Cada flor tem seu perfume
Cada vento tem sua direção
E tudo se confunde
E este ciclo finda sua duração

21 de abril de 2008

Ao velho amigo

Parece que o Rock'n'Roll virou coisa só pra ouvir quando se distrai; como se pode criar tão intensamente sem ânimo pra pensar? Marasmo tomou conta tão sutil que nem parece presente se não observar de fora conhecendo o que há dentro. Tudo está explodindo. Tudo estava explodindo. Agora os ventos mudaram de nome e os barcos tomaram outros rumos. Nunca soube pra onde ir, nem mesmo pra onde gostaria ir, mas de algo lembro-me: tive a lúcida visão de estar no caminho a pouco tempo, mas há neblina, porém, me impede de avistá-la agora. Sobre os valores sólidos e abstratos que com cores tão vivas faziam-se sentir não sei onde estão. O Solstício deu-me poder e deu-me fogo, o Equinócio matou parte mim. No espelho há um amontado celular de carbono exalando cafeína e outras coisas pelos poros e um grande cabelo despenteado sem sentido. Paredes pequenas nunca me empediram de expandir e vejo-me retilineamente dentro do corpo e nem um pouco profundo em nada mais. Insatisfação, meu caro, faz-me novamente saudoso dos tempos de nossos primeiros escritos (parece que ainda repito certaz palavras e elementos desesperadamente). Subimos alguns degraus, deveras, beijamos o céu; mas céu não é fiel e nem assume compromisso - o que não quer dizer que precisava abandoná-lo assim. Estou sendo compreensivo? Imagino que nunca serei, se até quando sou o mais claro dos matisses insistem em me incompreender. Logo eu, que sempre me vi como trasparamente. Trasparentemente difuso, certo. Essa difusão que se pode evoluir, junto com a hipocrisia para uma dissumulação indesejada. Não desejo. Desejo. Deseje sim! Que desejem todos, a toda hora. Que supram seus desejos antes que virem tormentos, e que os desejos sejam pequenos, grandes e imensuráveis. Sombras pairam assustadoramente e não sei como resolver (seria com a tinta mais concentrada?). Não sei, esse tipo de coisa acho que se resolve com a prática. Mas é que a prática demanda tempo e eu costumava me incomodar tanto com isso. Somos resplandecidamente mutáveis e atemporavelmente cíclicos - pelo menos em nossa eterna juventude de agora. Que acha disso? Deveríamos sentar às estrelhas e ouvir aquele disco dos Mutantes. Sinto falta, sinto faltas. Sinto falta de sentir mais. No fim vejo tudo difuso e não sei, sinceramente, onde estou no meio disso. Saudades, meu velho amigo.

14 de abril de 2008

Saudosismo aterrado

Foi o fato de eu ter passado três semanas longe de casa, ou algumas sem ter saído pela noite. Ou mais ainda sem ter visto alguns certos bons antigos amigos. Só sei que fato por fato me vi tomado por um saudosismo ou nostalgia estranha não sei do que. Essa mudança de ares e luminosidades parecia me dizer sobre quem sou ou quem costumava ou deveria estar sendo. Um bom tempo em silêncio me gritou que tenho muita coisa mal resolvida por dentro. Fragmentos e peças passadas me retumbaram em sonhos lúcidos e me encolhi outra vez no canto escuro. Quieto, percebi que gosto mesmo das luzes amareladas que fazem surgir a noite, assim: melancólicas ou extasiantes. É a condição fatal inerente? Espero que não. Já me avisaram sobre algo de desesperador que há em mim, e eu concordo. Não dá pra assistir embascado os dias morrendo. Muitas coisas estão se criando, mas são as certas? Por vezes não gosto do que é maior que eu. Nem as dúvidas, que esguias me tomam em extensão. Não gosto de não conseguir escrever versos segundo minha vontade. Não gosto do que não consigo controlar. E gosto menos ainda de não poder retribuir à altura.

7 de abril de 2008

Quatro lâmpadas

Duas lâmpadas já queimaram e outra simplesmente explodiu, me forçando a colocar pra funcionar a velha luminária artesanal de materiais simplórios. A primeira durou por bom tempo e era normal se acabar; já a segunda explodir assim não entendo como e nem porquê. A terceira foi só pra inquietar. Agora estou a fraca e verde luminosidade - a vantagem do verde é que as sombras são violetas. Violentas idéias que me passaram pela cabeça com tanta luz indo e vindo: parece até que não me querem vivendo na madrugada. Pode ser também que me querem é na inspiração da penumbra charmosa e ecológica da pequena lâmpada fluorescente. Seja como for, sob ela é que estou a escrever, desenhar e por vezes respirar. Só não consigo saber qual é a luz que deveria iluminar.

26 de março de 2008

Chora

Chora, algo te corroe e precisa sair
Expele as lágrimas e o que conseguir
Quis ouvir gritar
Mas você não sabe expressar
Não entendo o olhar
Mas você vai ver devagar
O vazio sem o que já chorou
Enxendo com algo que ainda não experimentou

21 de março de 2008

Tudo Rodando

Como se acordasse perturbado no meio da madrugada
numa das que resolveu por fim descansar o corpo
Irrompe-se repulsivamente à velha morbidez
de ser intruso e saudoso furtivo contra a vontade

Mas Vontade é Efêmero e Desejo e Vontade e mata-se

Se não matar vai morrer, Se não matar nunca vai viver

Tudo que é banal e superficial, Afinal, emerge do Visceral

(tem gente dizendo que é pra ficar por cima
mas eu to querendo arrancar o que tem por dentro
estão dizendo pra olhar e falar, estão ordenando
mas eu desobedeço e fecho os olhos em silêncio)

Algo Maior Envolve Tudo O Que É Menor

No silêncio dos corações serenos é que se grita

Aquilo da Vida que Transcende e Apreende


Suas brigas pessoais e psicológicas angustiam e desesperam
Insiste na briga, passividade costumeira é a pior fogueira
Até o Medievo findou-se, e cíclos cíclicos circulam sempre
Se não me entendes é porque nem eu sei o que se passa

A chuva existe igual sempre e sempre ecoa em meus rios
E traz alguma lembraça nova, florescendo o que regar
Mas a cabeça e o espaço, tão confuso, que eu nem sei pensar
Dou-me dois segundos eternos e retorno a teus làbios macios

14 de março de 2008

O que quer que haja

brilhou no céu a madrugada
e ela não está mais acordada
não esqueci daquele vento soprado
por mais que permaneça calado
silêncio que borbulha as cabeças
a flor, das cores não te esqueças
há de desabrochar se os olhos fechar
disparadas flechas a flertar
não sou lógico, sou empírico
sou abstrato e assim me trato
instintivo e não tão explícito
deixar permear espessa camada
fazer receber poesia declamada
as palavras estão aqui
e o sentido está aí
se vazio isso está soando
quem sabe dos versos já fala
vazio não se completa falando
e nem cabe dentro daquilo que cala
lembras da chuva singela?
que cai no chão ou na janela
aquelas poças já são vapor
agora a flor exala seu odor
suave perfumado explendor
transpiro algo mais quente - eminente
também sente o sangue corrente?

24 de fevereiro de 2008

Sonhos traslúcidos em noites rarefeitas

sonhos traslúcidos
pensamentos correndo em fluxo
num lugar a que nunca pertenci
recitavam versos que nunca compreendi
uma luz fosca ao seu rosto
ofuscando tudo que nos é imposto
iluminava seu sorriso mais terno
me levando novamente ao inferno?
calorosamente soando à paraíso
logicamente, tudo sem sentido

noites rarefeitas
pesadelos infamens com vontades insatisfeitas
centenas de vaga-lumes dançando feito constelações
centelhas algures incitando receios nos corações
ilusões mascaradas cochicham em segredo
alusões multifacetadas excitam em agrego
por detras do fundo negro a lua reacende
em espetáculo astronômico surpreende
fazendo desabroxar a mais bela flor noturna
e tudo se esquece enquanto a estação ela perfuma

17 de fevereiro de 2008

Que seja

o vento trouxe novos perfumes às antigas flores
e o solstício deu aos velhos olhos novas cores
já não somos o que costumávamos ser
e tornou-se incrível o que costumavamos crer
as harmonias calculadas não são tão desejadas
como as dissonancias espontâneas ou improvisadas
nossos passados se reciclam e nos confundem
mas nossas vidas são presentes e nos unem
magnífico fogo à estúpida mariposa
movimento fugaz da esperta raposa
tão sublime que é o pólem ao beija-flor
e nada me intriga mais que o seu calor
alheio ao que se deseja
desejo que seja

5 de fevereiro de 2008

Mais sobre a chuva

timbres gritantes elétricos anciosos
fazem dançar os vagalumes ociosos
que distraem em minutos preciosos
enquanto a chuva molha a madrugada
cheiro suave deixa mente enxarcada
paredes sábias não respondem nada
ouvem atentas palavras correntes
do ínfimo dos seres descrentes
que criam sem prazer só pra satisfazer
que são sem função sem opção
e reclamam se amam sem querer
cospem no reflexo perplexo
sua própria imagem desintegra
ao passo que à ruína se entrega
e desfaz-se dos fragmentos que carrega
passa o tempo a observar o relógio
tempo se passa sem enxergar o lógico
tempo que se passa a venerar o exótico
tempo que se passa a adular o falso
até que se obtenha um legítimo calço
que sustente em pé toda a falta de fé
desnorteado, embriagado, afugentado
coitado, complicado e enxarcado
no ápice da vertigem cai sob a chuva
esquecendo que isso também é pecado

31 de janeiro de 2008

Pasmáveis Pastagens

Molho a pena em minha alma diluída em sangue
Rabisco linhas extravagantes sinuosamente
Minha calma destruída pela falha diante da cena
Insisto em tintas vulgares furtivamente
Surge aos poucos o rascunho do ridículo que assisto
Urge aos loucos seu entulho insípido que registro
Faz-se mártir de pirâmide monumental de dejetos
Fácil morte aos estúpidos, boçal sem escrúpulos
A moldura da mais surreal e cômica asneira
Que faz-se trágica por passividade costumeira



*pra não acumular bolor