25 de dezembro de 2006

A mariposa

Já se faziam horas que o dia havia sido divido pela noite, que também já se esvaia. As memórias de todas as horas que passara com os amigos e com outros não tão agradáveis se confundiam como na cabeça de qualquer um que se encontrasse exausto como ele. Não que tivesse exagerado nas doses de alcool - companheiro de sempre -, estava dentro dos padrãos, dos seus padrões. Cansaço que estava por aumentar da longa caminhada que faria para chegar em casa. A carona programada com antecedência abortou e quem iria ter que bancar a corrida eram as velhas pernas.
Mas como existem sombras nas ruas escuras. Começou a perceber isso enquanto conversava numa esquina com o amigo que o acompanhou até meio caminho. Os olhos nos carros pareciam fitá-lo como se fosse um criminoso ou um monstro a solta e, depois da primeira encarada, voltavam e voltavam para ter certeza de que estava mesmo a solta. Da escuridão quatro sombras se fizeram carne, carne humana, e interceptaram atordoadamente as discussões que cortavam a noite sumindo, porém, tão rápido como apareceram. Bem lembrado, a noite estava sendo cortada, era chegada hora.
Despediu-se do amigo e tomou seu caminho. O caminho era assim tão longo ou as pernas estavam dando passos mais curtos? Na verdade era o frio que tentava confundir os sentidos. Mas não era ele que, atrás de cada moita, do outro lado de cada muro, no dobrar de cada esquina, cochichava palavras de ventos e arrasva passos de escuridão.
Não se sentia mais tão bem na calçada, a uma hora dessas que mal há em andar na rua?, pode-se ver bem ao redor. E assim foi, passo após passo, pensamento após pensamento - talvez fosse melhor não pensar. O suor frio e incomodo começava a escorrer entre as folgas da camisa e o pescoço doendo dos repetidos movimentos nas direçoes de seus sentidos. No alto da cidade havia mais segurança, mais pessoas, mais movimentos, havia luz, ouvia-se música de dentro daquela casa, ouvia-se bêbados - esses sim, bêbados -, e as sombras? as sombras fojem da luz.
Mais um trexo e enfim a chave, mais alguns minutos e enfim a luz do quarto. Mas na luz do quarto que todas as sombras se personificaram e explodiram. O primeiro contato foi instintivo, porém a visão causou o choque: a mariposa. Um verdadeiro susto, mas uma mariposa? que tem de mais em uma mariposa? Grande, mas não maior que uma de suas mãos.
Exigir razão de uma alma perturbada? O monstro da rua sentia calafrios com mísero animal que se batia - nem voar sabia - nas paredes, no teto e na janela. A luz no corredor foi a estratégia que não deu certo, o intruso encontrou mesmo o abrigo da noite no quarto, no seu quarto, em seu templo de descanso. Por qual razão lógica apareceria uma mariposa justo aqui e justo agora? Apagou as luzes e se escondeu debaixo das cobertas. Podia ouvir o bicho rondando seu corpo e jogando em sua mente o pavor. Nem a cabeça ficou pra fora e dormiu ensopado de suor. Seus sonhos que normalmente já não eram tão comuns preferiu esquecer.
Na manhã seguinte abriu a janela, fechou a porta, saiu do quarto e voltou a ser homem.

Excentricidade

Um blog mais egocêntrico e com camisa listrada, acho que ficará mais conveniente...