23 de junho de 2008

regurgitar

essa translação nos leva como pó em vento
é mutação, e não sei porque, eu entendo
entendo tudo isso e te entendo
por mais que diga que não, continua no campo da visão
elas batem, se chocam e chacoalham
nossas lembranças nos entalham
e nessos pensamentos se espalham
no grande poder de uma grão de sei-lá-quê
numa imensidão de não-sei-que-lá
fazer o quê, controlar?
não sei, não sei se saberei
o como daquilo que saboriei
e quantidade que me separei
tão efêmero, não querendo ou deixando
tudo que vai desabrochando
ou acidamente debochando
contínua rotação, dentro da equação
premeditada
meditada?
mesmo com agressividade, sem passividade
encaremos essas múltiplas curiosidades
realidade estranha que vai pra dentro das entranhas
se regurgitar ou vomitar
torne a levantar e volte a caminhar

18 de junho de 2008

O que você acha?

vê se essas opiniões são puras
ou frutos da macroestrutura
passam por filtros de cultura
até dissolverem em conjuntura

eu te manipulo, você me inlfuencia
dissimulamos nossa hipocrisia
não suportamos vossa teimosia
faiscamos em harmonia

se você enxerga em sinceridade
no fundo há alguma contrariedade
disfarçada pela sua seriedade

quando a idéia desentoa
pra não discutir à toa
aceita numa boa

12 de junho de 2008

Pela rua

Depois, há energia em encubação
na chuva sem capa molho os sapatos
mas não está tão frio assim
e tanta vontade pra expansão
cada um como vetor
sempre precede uma trasmutação
e se atira em sua nova revolução
outro dia me pediram um trocado
e eu achei um lápis prateado
magnânimos senhores das técnicas
enxarcam os pés ainda mais
e amanhã estão atrasados novamente
e com a corda no pescoço
continuam querendo sua transcendencia
não me indigno com indecencia
nem quando vejo o sujeito defecar
e os passantes sem querer notar - sem querer
e os valores que dão aos valores
sempre mudar, sem querer
sempre acordados, sem tempo para parar
parar pra crer
tempo pra parar
assistimos nossos dias acordar
e nos assistem passear
trocamos sorrisos, nos falamos pelas costas
criticamos o juízos, discutimos nossas cotas
e assim os pés não vão secar
mas não dá pra deixar a vontade matar
nem deixar de matar a vontade
assim sentamos no bar
voltamos pro lar
ficamos de pernas pro ar
com uma parte da cabeça sem oxigenar
e metade dos versos sem rimar
sem contar os 32 poemas sem anotar
e os 13 amores sem amar
mas ainda penso
que vou secar minhas meias
depois de topar com as putas feias
depois de falar com as cabeças cheias
e escarrar de boca cheia
e sempre querendo ir pra algum lugar
antes da coisa acabar
e estar em todo lugar
que por sorte encontrar
guarda chuvas não segura os calçados
capa de chuva também não
e tá cheio de fezes de ratos nessas poças
e continuam charmosas essas moças
tudo ao mesmo tempo
no mesmo lugar
no lugar onde estou
e sempre estou em algum lugar
mesmo que não passe bem devagar
tudo acaba em aleatório
na boca do riso alegórico
até depois de pendurar os cadarços enxarcados
e tirar a roupa cansada
fica em algum lugar marcada
aquelas vontades de sempre
que sempre estão diferentes
nossos olhares divergentes
nossos lugares diferentes
se nos encontramos
desencontramos mais ainda
ainda que continuemos procurando
enquanto as gotas ficam pingando