28 de dezembro de 2009

recortes - xerox e posia


O projeto inicialmente intitulado "poesia de nossas dias", sobre o qual estive um tempo procurando interessados em contribuir com poemas está agora finalizado.

Foram produzidos 50 volumes do livreto, chamado "Recortes - xerox e poesia", que serão vendidos à bagatela de 1 real para custear os xerox. Estes exemplares serão levados ao festival psicodália de ano novo.

Futuramente mais informações em recortesxeroxepoesia.blogspot.com

10 de outubro de 2009

alguém pode me dizer
pra que gastar a vida cortando papel
ou correndo atrés da aluguel
pra pagar em dia

nossos velhos cliches em heresia
se reciclando e nos convencendo
(pensando enquanto correndo
sob o sol ou chuva que fazia - tanto faz o dia)
do que é preciso

mas o que eu preciso?
não sei ao certo porque não tive tempo de pensar
usei meu tempo pra pensar
no trabalho que tinha pra entregar
ou no que tinha pra arruamar
(são sempre as mesmas rimas de sempre)
(me enrolo na minha própria serpende)

meu, oh meu bem
não fiz banda e nem carreira
sou refém de mim
e de uma suposta vida sou afim

que tal então tomar quentão
e procurar quebrar/uma nova rima achar
porque (e você a essa altura já deve saber)
tá foda
só no almoço tomar uma soda pra relaxar
com essa história de desse-por-satisfeto-com-o-rocambole-de-queijo
no máximo posso não me lebrar de estupefar
mas poxa, quero a tal falada
moragada a beira da brasa
(?)
enfim

11 de agosto de 2009

quando me encontrar
pergunte onde foi parar
cabeça avuada
comigo carregava
peso no peito
dor não sei de quê

pra quê
se preocupar
em contar os passos
se os pássaros cantar
é mais legal de olhar
ou
pra quê
contar os pássaros
se cantar aos passos
é mais legal: não me conte

fui passear
sei lá onde fui parar
me avise
se me avistar
andei descalço
pisei em falso
deve tá chegando
qualquer hora aí
já já taí
pera mais um pouco
ja tô ficando louco
mas já tá na hora
podia ser agora

onde é que tá?
onde foi pará?
quando vai chegá?
já deve tá aí

vai mais depressa
ou nem venha mais
deixa disso meu rapaz
pra que toda essa pressa

28 de julho de 2009

de noite me deitei mais cedo e
levei pra cama comigo
meu caderno e mais dois livros

joguei fora a água parada e
deitei com outro cobertor
de baixo da luz apagada

fiquei aceso com o abajur e
com uma madruga (começando) molhada
pensando em me mudar

tempo que não muda: já estou ficando nublado
tendo que guardar chuva, já que a descarga da latrina tá quebrada
(sempre achei da latrina e quis dar descarga nas coisas de ordem prática)
e agora? prestes a talvez mudar de vista de janela de piso de sofá de pia geladeira azulejo estampado e uma porção de coisas que nunca precisei
mas que começam a fazer falta
que impasse: me apego fácil
gosto de ficar
sentado e
me acostumar

essas coisas nem são minhas;
então vou talvez guardar as coisas na mala (as minhas)
ir usando meus dias pra me desapegar
matar saudades do que ainda não me distanciei

fiquei na penumbra e esqueci
que posso me deixar em qualquer lugar
já que moro dentro de mim

15 de julho de 2009

amanheci com gosto de noite
sem precisar dizer que,
sem vontade de dia,
a tarde me puxou
depois de matar a manhã
e, devidamente despertado,
me obrigo a parar a madrugada.
Rotina ingrata.

6 de junho de 2009

passo a passo caminhada maquinal / gasto pensamento com praxis / vou passeando pelo sistema digestivo da máquina invisivel / invisivel pelos olhos desatentos / inevitavel para os carações aflitos ( com os quais esbarro cotidianamente / apreendo consciente ao passo que crio listas (de coisas de pessoas de gestos de pensamentos e situações de conceitos e preconceitos / o cimento da rua faz tudo girar e se cruzar / eu anseio e desejo e tenho medo e quero mais / ouço o som que vem dos predios das salas dos quartos dos terços do contratempo (que no fundo são / pessoas com voz
tempo que se sublima e nos consome / cada vez mais escasso deixa cansaço / cada vez menor me sinto cada vez maior / meu reflexo em alguns olhos é inanimado / mas nos seus (olhos) e com o seu (reflexo) sinto vida

3 de maio de 2009

venha, vamos viver
você que inveja a velocidade
e tem vontade
de ver de verdade

tente terminar a trama
entrando na transa
sem traumatizar a terra
ou trair o estrume

faça sentido sempre
mesmo sem parecer
o som se apossa desses versos
mesmo sem eu querer

vejam vocës quanta coerencia
o vulto do ovo da ave voa veloz, veja voce que inveja a verdade de voar vendo vento vibrar vossa vontade de vida
Vai, e cospe a asia do seu estômago
antes que ela te engula e te vomite.
Para de tragar esse ar estragado
que te destroça por dentro
e derrete até a tua sombra.

Te sobra o que pensar mas te falta pra onde olhar.

Pobre garoto,
podre senso autodestrutivo
triste afinidade.

23 de abril de 2009

não sei, não sei
sensação de aperto
insensata
se manifesta
e não se manda
não se manca
que não tem praquê
só pra se ver
só se for
mas já vi
então já podia ir
quem é
que enche a boca pra falar
ou que fala de boca cheia
- da boca pra fora,
com propriedade autoproclamada
em tentativa frustrada
de encher a alma vazia?

ou quem
se enche do que acha pela frente
com medo de ficar vazio?

21 de março de 2009

plantei sementes de vento
em nuvens de algodão
pra soprar o fim o verão
e poder chover com calma
enquanto decanto minha alma
Pétalas de sulfite,
brasas de grafite,
perfume vicioso.
A mão corre e tenta traduzir
o que o pensamento amorfo,
do terreno fértil de ideias,
suspira sem esforço.
Polinizo e cultivo:
nasce morto
outro broto de rabisco,
que no cemitério do pomar
enterrro pra adubar.

28 de janeiro de 2009

num minuto distraído
traído pela minha atenção
esqueço do mundo
me perco
num segundo nu

múltiplo segundo
múltiplo sê mundo

quem quer saber do ar
quem quer saber tragar
quem quer saber dos outros
quem quer saber do pouco que tem fora daqui
quem quer saber do espaço
que existe entre as coisas
ou vazio
dentro das coisas
quem quer saber do tempo
quem quer saber do lamento
quero só saber
de não saber de nada

nem escudo nem espada
nem estudo nem escala
nem tudo nem nada

quero esquecer do segundo
me perder num mundo
que o tempo seja mudo

20 de janeiro de 2009

Café

Café preto numa mesa
de madeira num sofá
vermelho. Açúcar, tá?

Expresso? Ah, bem que tento.

objeto

poe-
sia
é
que
nem
pensamento

sem
o
que
pen-
sar
pensamento

não
há.
Poe-
sia

tem se há

al-
go
que

pra
se poetar.

19 de janeiro de 2009

Retórica de fim de tarde

A luz do fim do dia
A luz do fim de tarde
A luz do começo de noite
O quarto fica escuro
O céu fica mais claro
e brilha
Brilam as gotas presas
nos fios do varal
Gotas acesas
(de tarde choveu)
O sol acendeu
logo vai apagar
e passam os postes a iluminar
O dia que apagou
A noite que acendeu

verso de hoje

Parnasiano-Simbolista-Moderno
o verso hoje não é nada
pensa que tem verbo eterno
e não tem vergonha de não durar
nem até o fim do poema

tem um ou outro com meta (linguagem)
não é lá muito elegante
informal, jamais usaria um terno
vez ou outra se veste pós-moderno
(ouve todo tipo de música
se envolve com todo tipo de mulher
se apaixona
revoluciona
se enche de signos
e o significado esconde)

com uma bimbadinha sai cheio de rima
despojado - ou vagabundo - não se mede
mas sempre que o poeta pede tá lá
dançando como ele só
espontâneo e sem dó
(gente boa esse verso de hoje...)

Cuidado

Cuidado
Não vá atrapalhar o santo sono
da noite que dorme
com medo que o barulho se trasforme,
cresça e se torne insônia.
Crença que na noite se dorme.
Quem fica acordado, a noite engole.
Só devolve quebrado, depois da madrugada.
Vingativa, rouba o dia como quem diga:
_ Cuidado! Não vá ficar acordado...

Dúvida

Quando hesito (não hesite)
só uma coisa existe:
a dúvida
se vou ou se fico.
Se penso, não vou;
fico e penso:
na próxima eu vou

18 de janeiro de 2009

Perdição II

Saí do quarto abafado - já estava ficando chateado
As bebidas de lá não me matavam a sede
O que havia lá pra comer não me matava, quando tinha, a fome

Foi bom ter entrado, se assim não fosse
Nunca teria saído, não assim
Altivo

Lá pensei tanto, falei tanto
Cantei tanto, em todo canto
Meu cabelo cresceu
Meu espírito cresceu
Cresceu até
a vontade de mudar; mudei

Encontrei-me criminoso, incriminei-me
Plantei pecado, colhi a pena
E valeu a pena

No meio de tanta coisa que era incerta, acertei
O que era vago se encheu, enchi a mochila
Depois que vi o sol nascendo cheio de ar de manhã
Saí sorrateiro pela porta dos fundos
Em direção à sombra perfumada

Ficar deitado ou passear pelo gramado
Tanto faz
O ar fresco com cheiro de liberdade
Um pequena liberdade que encontrei, por fim
Me libertei, enfim
alguém roubou o livro da biblioteca
(onde alguns já o teriam conhecido)
ou ficou com ele quando ela fechou
ou só carimbou com o carimbo de lá
depois não quis mais saber dele
e vendeu, ou deu, ou esqueceu
ou não: foi roubado, se enganou
não se sabe por quantos desse passou
mas acabou no sebo perdido
na prateleira de prosa:
Literatura Brasileira
gostei da capa dura e o nome era familiar
troquei por uma nota de cinco e levei
não sei quem tudo leu
quem é dono de cada rabisco
mas por um belo acaso
foi bem bom
dividir com tanto estranho
os versos de Drummond

vermelho

não precisa ter vermelho pra você ver vermelho
já tem vermelho só quando eu digo: vermelho
mas o vermelho é o vermelho de quanto você vê
ou quando você vê você lembra desse que agora vê?
uma frase rasgada arranhou minha garganta e me arrepiou tão repentina que não resisti e respondi rasgando ela também
rasgada e sem ninguém pra pronunciá-la desarrebitou-se e se derramou pelo ralo afim de se agarrar em algo pra rasgar
contudo noutro minuto veio de novo produto uma sentença de veludo com som pompudo lá do fundo pra se entoar
nisso um calapso aconteceu que a frase de antes reapareceu e rasgou a nova e que como aquela - pronunciada - pereceu

sobre pedras

As coisas por si só não existem não
Por si só, a coisa simples, é não
é Nada

Só existe a impressão
A pedra que eu vejo existe - existe o que eu vejo da pedra então
O que você vê da pedra tem também
Mas sem ninguém, pedra não tem
E a pedra que vejo, não é a pedra que você vê
A minha pedra só existe pra mim
A sua só pra você, é assim:
Concordamos ser a mesma
Por pura gentileza

17 de janeiro de 2009

ss

passo e fico
passo fundo
me afundo
me apresso
aperto o passo
passo a passo
passo passei
passeei e voltei
voltei e fiquei
no espaço
esparço
me perco
e passo
na poça
empossada
descalço
na calçada
mas passa
me acho
eu acho
quem passe
que impasse
achei!
agora fico
pacifico
passei e voltei
fiquei
pacífico
passo e fico

Passo e fico: pacífico

é tão simples...

São como um poema (as coisas)
que fala de alguma coisa
que é como é (as coisas são o que são, apenas)
E como a coisa (é o que é)
o poema é o poema que é

As coisas são substantivos
Seus adjetivos nós que as damos

Coisas, Palavras
Palavras são palavras
Coisas são coisas
Que arbitrariamente
associamos aos pares
Palavra-coisa e
confundimos

Vamos guardar os pequenos momentos do mundo
pequenos momentos de nossa existência
em pequenos poemas para o mundo
para o nosso mundo
para a existência
nossa existência
existência de nossa
existência

Passo e fico: pacífico





*Pensamentos que tive enquanto lia o guardador de rebanhos do fernando pessoa/alerto caeiro que só mais tarde vou digerir

14 de janeiro de 2009

A chuva não sabia se chovia
Ninguém sabia quem ia
O tempo corria

Fui esperar na estação central - sentei;
Logo ela chega - chegou;
O reencontro, sorriu, me encanto;
Penso em tanto, sozinho num canto
Ela fica tão bonita ao luar, mesmo assim
minhas palavras sem chegar;

Que é que se passa nesse olhar
Aquilo que pensei, onde foi parar
Ora, tanto faz
Se palavras não tem efeito
Nos entendemos de outro jeito

a respeito do tempo

disse que meu olhar parecia triste
(num lapso de razão
lembrei que o tempo escorre)
como insiste!
logo escorreria pelo vão de minha mão
tempo se esvai - você se vai,
e agora empaca: Vai!

mas sei que tempo corre
uma hora vai chegar
e logo me leva
devolta pra lá

13 de janeiro de 2009

verso livre

no verso livre cabem todas as coisas do mundo
de todas as verdade até seu instinto vagabundo
só não pode se prender
porque o verso é livre
e lá que escondo meu mundo

escrevo

escrevo em qualquer papel
se não tiver papel
escrevo nas paredes
ou no teto, ou até deitado
no chão

mas ah,
que coisa sem razão!
melhor mesmo é escrever com olhar

poema de última hora

na última vez que fui embora
não sabia como seria
- esse sentimento afastado
que deixa o tempo arrastado

e agora que voltei
também não sei o que vai ser

na verdade não sei de nada
nem quero saber
com tanta coisa nova acho melhor
deixar a hora me dizer