17 de novembro de 2007

Consonante

Peça morta do xadrez
Coça a nuca outra vez
Tenta se encaixar no quadro
No quebra-cabeças não enquadra
De mágico nada tem seu cubículo
Sentado, aproveita o martírio
Deixa logo as cartas pros envelopes
E essa jogatina ao seu submundo torpe
É preferível ser poeta livre
Do que viciado angustiado de baixo calibre

16 de novembro de 2007

O que deve ser

meu espírito empirista vasculha lúcido como pode
tudo o que acha pela frente e digere segundo o que pensa
tento alimentá-lo com o que acho precioso
mas às vezes, muitas vezes, acho insuficiente
nem sempre é tão simples classificar, quem dirá encontrar
num mar de verbos consolidados, entre ações e metáforas
que soam tão verdadeiras quando são fruto de pura mesquinharia
quando apoiar-se em pilares frouxos torna-se inseguro
a melhor opção tonar-se abrir as asas
e voar em direção ao que cheira melhor e soa mais agradável
mesmo que o agradável seja vil ou asqueroso

algumas coisas merecem ser lidas e outras tantas sentidas
já outras pelo contrário precisam sê-lo
o desperdício é sempre uma imbecilidade
já deixar de lado, é algo que faz-se necessário
ter perdido por ter deixado de lado é frustrante
o inverso pode ser tanto sadista quanto piedoso, melancólico
ditos vazios brotam como resposta de atos vazios
e do racionalismo que persiste, diz-me, não só a mim
Faça o que deve ser feito, apenas

Pulsante

os ventos infames faziam ranger
qualquer coisa que sofria barulhenta num canto escuro
a noite havia vestido seu pijama
tudo o mais aos arredores adormecido em tédio,
marasmo de gosto amargo
de súbito o sentido da correnteza altera-se
ascende-se uma fagulha prestes a incendiar
pólvora que carrego sempre comigo

mergulho atroz na atmofesra inerte e congelante
e parece mesmo que não é fora que estão as coisas
conturbados momentos solitários
rumo ao que está mais ao fundo
e contorse ancioso por liberdade
e lutando com algo intruso que implantou-se clandestinamente
a própria liberdade batendo asas para voar
e gritando versos contra o vento que rasga a face
num gracioso conjunto de paços de dança
a Lua não pode ser testemunha
quando a sombra atingiu incríveis sete metros de comprimeto
ou quando acompanhou-me em divino ritual de libertação
botões, moedas, chaves e o amuleto
tornaram-se o chocalho da cauda da serpente
enquanto minha face refletida na janela
soprou-me novas verdades e semeou algo novo em sob minha pele
que agora começa a correr esquentando meu sangue
e ferve enquanto passa pelo miocárdio

Tão doce

Puro aço incadecente em trilhos de ferro fundido
Voa estridente feroz besta raivosa fulminante
Nuvens estouram de explosões violentas de fumaça
Fumaça negra e venenosa que expande e corroe
Devasta quilómetros de viva vegetação verde dos arredores
A Máquina poderosa que tudo pode acaba com milhões de centímetros de vida
Dentro dela dezenas e dezenas de embasbacados ignorantes
Nada percebem do que se passa em seu próprio casulo
- Nada de mal vai acontecer a vocês, meus pobres coitados
Integridade física, completa sanidade do juízo
Lenha na caldeira, fogo para todos os lados
Todos exceto um, transitante entre o que é sano e que é insano
Integridade espiritual, mente conturbada
Maluco, endoidecido, ao olhar pelas gélidas janelas de vidro de alta resistência
Do moderníssimo trêm bestial, patrimônio do desenvolvimento
Se apaixonou por um beija-flor e uma pétala de rosa em acasalamento sublime; tão doce.

12 de novembro de 2007

Cansado?

Há vezes que simplesmente não consigo dormir
São os furos no carpê, o som novo que acabou de chegar
Versos florescidos ou gotas de chuva quente
Coisas pra fazer ou pra pensar, testar e tentar
Por vezes respirar mais devagar ou divagar
Explorar tempos mais claros da madrugada
Soam tão bem no silencio que chega suave
Transbordam pelas superfícies e trasformam
Nunca se é o mesmo depois de uma noite não dormida
Mal dormida pode ser, sofrida quem sabe
Mas os sonhos aparecem mais lúcidos
E é bem melhor que se fica durante

9 de novembro de 2007

Brisa asquerosa

Doce ritmo da vida

De livres elementos transitivos

Mutantes e deslocáveis

Ora natureza de água parada

Ora vento torrencial

O mundo ao alcance dos lábios

Cai súbito à palma das mãos

E do alcance dos olhos fica

somente impregnado da lembraça

Se nem a Lua é imóvel como o Sol

Como haveria de ser com o que

criam os resquícios da poeira estelar?

Dinamismo universal vomita

toneladas de lixo na cabeça

enquanto soa tão agradável

o balançar dos cabelos aos ombros

5 de novembro de 2007

Dicotomia

a simplicidade é a mulher de todos nós

mas no caos é que os abstratos efervem

tornando-se a mãe das criações e ações

simples caos, caótica simplicidade

começo, meio ou fim?

- deve ser sempre meio

mesmo parecendo estar sempre sentado no fim -

não é à toa que todos complicam tudo

quando nada além do apenas fazer era necessário



admito certa paixão à confusão

amo-a, odeio!

ou seria minha antipaixão?

maldita...



mas cara, você não precisa disso!

na dúvida, apenas respire; lentamente.

Cíclico e Contínuo

Partícula em contato
Trasgride, transita, transcende
Fagocita, digere, evolui
Sobe em espiral
Espiral imperfeita,
mas sempre subindo
O que tem no topo?
Não sei se há um topo
E não pode parar de subir
Porque o relógio é relativo
mas é também atômico
Sempre em contato
Por vezes consigo mesmo
Outras com seus semelhantes
Outras com os irritantes
Não gosta dos pólos norte, sul, leste
Leste causa náuseas
Norte é indeferente
Durante o sul, vegeta
Prefere o oeste
No oeste goza
Trasgride, Transita e Transcende
Inevitável, meu caro
É Cíclico
E Contínuo

2 de novembro de 2007

Viva viva

Mas se eu quero, e mesmo que você näo ache täo legal
Esperar até pelas sete da manhä pra ver o sol nascendo
Ou discutir por horas a poética filosofia existencialista pessoal
Ou tomar banho com uma toca de banho
Entäo vá-se, faça-se o que se quiser
Afinal há de ser tudo da lei