24 de fevereiro de 2008

Sonhos traslúcidos em noites rarefeitas

sonhos traslúcidos
pensamentos correndo em fluxo
num lugar a que nunca pertenci
recitavam versos que nunca compreendi
uma luz fosca ao seu rosto
ofuscando tudo que nos é imposto
iluminava seu sorriso mais terno
me levando novamente ao inferno?
calorosamente soando à paraíso
logicamente, tudo sem sentido

noites rarefeitas
pesadelos infamens com vontades insatisfeitas
centenas de vaga-lumes dançando feito constelações
centelhas algures incitando receios nos corações
ilusões mascaradas cochicham em segredo
alusões multifacetadas excitam em agrego
por detras do fundo negro a lua reacende
em espetáculo astronômico surpreende
fazendo desabroxar a mais bela flor noturna
e tudo se esquece enquanto a estação ela perfuma

17 de fevereiro de 2008

Que seja

o vento trouxe novos perfumes às antigas flores
e o solstício deu aos velhos olhos novas cores
já não somos o que costumávamos ser
e tornou-se incrível o que costumavamos crer
as harmonias calculadas não são tão desejadas
como as dissonancias espontâneas ou improvisadas
nossos passados se reciclam e nos confundem
mas nossas vidas são presentes e nos unem
magnífico fogo à estúpida mariposa
movimento fugaz da esperta raposa
tão sublime que é o pólem ao beija-flor
e nada me intriga mais que o seu calor
alheio ao que se deseja
desejo que seja

5 de fevereiro de 2008

Mais sobre a chuva

timbres gritantes elétricos anciosos
fazem dançar os vagalumes ociosos
que distraem em minutos preciosos
enquanto a chuva molha a madrugada
cheiro suave deixa mente enxarcada
paredes sábias não respondem nada
ouvem atentas palavras correntes
do ínfimo dos seres descrentes
que criam sem prazer só pra satisfazer
que são sem função sem opção
e reclamam se amam sem querer
cospem no reflexo perplexo
sua própria imagem desintegra
ao passo que à ruína se entrega
e desfaz-se dos fragmentos que carrega
passa o tempo a observar o relógio
tempo se passa sem enxergar o lógico
tempo que se passa a venerar o exótico
tempo que se passa a adular o falso
até que se obtenha um legítimo calço
que sustente em pé toda a falta de fé
desnorteado, embriagado, afugentado
coitado, complicado e enxarcado
no ápice da vertigem cai sob a chuva
esquecendo que isso também é pecado