27 de janeiro de 2007

Enforcamento

Entre o limite do lúcido e do inconsciente, com olhos pesados e mente cansada,
sem saber se o que está imaginando é mesmo das linhas que tenta ler
ou fruto do profundo da mente que já revela fantasias dos desejos mudos,
sente-se estremecer e os pés suar, o corpo sem força para a devida atenção
Uma mão balança a cabeça e empurra para um querer sem poder
A visão, já embaçada; as imagens, fora de foco; e o segurar do livro exige mais força que os dedos têm
É o sono amarrando a corda no pescoço, logo logo será enforcado;

Chutado o apoio, assim como caem as pálpebras é derrubado
Mas nenhuma vértebra se rompe e a asfixia do sono não é definitiva
Talvez o laço não esteja tão firme ou a corda não tenha o exigido tamanho
De um susto, volta à linha que não foi terminada
Saber o que havia nas que a precediam, não com o pescoço laçado
Treze meias palavras adiante e outra queda, mais sufocante agora
Chega até a ver personagens sobre quem não lia discutirem sobre algo que pensava
Mas o que vê parece que não agrada, sem saber que as coisas são diferentes quando se está pendurado,
volta a respirar com um gemido involuntário
A execução dessa noite parece não querer proceder, talvez não seja mesmo a hora do pobre coitado;

Confusos os segundos que o laço se desata, o que foi o que não era
Os sentidos aguçados chocam a mente que suspira com dúvida
Levanta-se, a visão escurece e o corpo formiga, sente-se tonto
Mão à cabeça, deixa o livro que ainda segurava na estante
Aos poucos, linhas tomam forma e reconhece no espelho o próprio semblante
Imagina-se livre e acordado e se lança porta afora, impune;

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