26 de abril de 2010

Anotações passageiras

Achei perdido em um caderno anotações datadas de 01/05/09. Faço pequenas alterações enquanto digito. Só pra não se perder:


Dia tipicamente curitibano:
frio e eu quis dormir mais.
Visto azul e escuro.
Camuflo na multidão agitada
e na arquitetura gelada
da rodoviária em dia de feriado (que feriado era mesmo?).

Em dias assim, os ônibus costumam lotar e eu dei sorte de conseguir uma vaga meia hora depois do horário que pretendia na segunda opção de empresa de viação.
Ela fica no fim do corredor e a fila sempre está maior, porque é única.
E agora me sobra meia hora à deriva.

Sento no corredor de espera.
A velhinha ao lado - 5 cadeiras de intervalo, já não recordo a face - ouve música ou rádio com fones do celular.

Duas mulheres passam a ocupar as cadeiras do intervalo.
Uma delas grávida.
Carregam grandes sacolas e folheam revistas de fofoca e novela.

Uma moça - 20 e poucos - me aborda com face e voz.
Melancólica, me chamando senhor e pedindo ajuda.
Alego ter gasto toda grana com a passagem (sei não...), ela sai estantaneamente.

Passam dúzias. Preocupados, pensativos, analíticos ou só percebendo.
Um tipo de figurante muito comum que nunca mais verei e cumpre sua função anônima de passar, andando.

Passam os que esperam embarque,
passam os que esperam desembarque,
passam os funcionários das empresas de viação,
passam os carregadores de bagagem,
passam os que querem pedir
ou precisam
passa o velho vasculhando vasos e o lixo
passam crianças, jovens, adultos
e já passaram 15 minutos -
há grandes relógios no decorrer do grande corredor.

O carregador de bagagem troca xingamentos com alguém que não consigo ver por causa da porta que não fecha:
"Olha o patrimônio da URBS, Babaca"
"Traia..."

A voz mecânica anuncia as últimas chamadas.
Sempre que faz isso um novo cardume passa apressado.

Há ainda degustadores de coxinhas gordurosas,
uns que passam me olhando: "Tá escrevendo?".

Só faltam 10 minutos e eu agora: embarcar.

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