25 de dezembro de 2008

ausência

quase sinto
tua mão no meu rosto
respirar no teu pescoço
quase dá pra ver
teu olhar se esconder
e finjo que esqueço
quase minto
pra que a mentira esquente
o fato de não estar presente

esperando

um segundo me distrai
o pensamento cai
sobre imagens que filtrei
ou criei;
às vezes nem sei
o que existe mesmo,
não teria inventado
num momento
chateado?
faço um movimento:
agora me lembro
estava ali
estou aqui
parado e calado
esperando que passe

garoando

abram as janelas
para o céu sem sol
sobre elas - eu sobre o lençol
assisti acordado
a chuva tinha começado
as gotas caídas em pétalas
as flores todas em pé
a grama cheirando molhado
garoa fina no telhado
e eu ali deitado
pensando
que está se passando?
nada demais
continuemos garoando

17 de dezembro de 2008

o verde de gramado recém cortado
com roxo adocicado encontrou
o sabor pro seu odor
e se completou;

tonturas a parte
a parte dos sorrisos
o tanto que falamos
de tanto que passamos
as gotas choveram finas
passantes riram de canto
enquanto mudávamos de canto
alguns segredos cantei
depois de lágrimas que contei;

cheiro de grama cortada
cheia de grama, coitada
goles longos seguidos
de contatos prolongados
pela pele macia
do jeito que fazia
te sentir em mim
depois achei que me encontrei
e silenciei;

minha camisa ficou listrada
e sua face, rosada;
oxe, grande massa de nada
enxarcada de coisa nenhuma
entupida de gestos recatados
com milhões de significados

rituais soam como tribunais
com meus dedos, tudo manchado
sobre a lenha, machado
e os livros, que mancada

me encho de reticências
engulo pedaços de mim
a seco - por fim
novas experiencias...